Doença de Kienböck: Causas e Tratamentos

Ao longo da minha experiência como cirurgião ortopedista especialista em mão e punho, tenho acompanhado centenas de pacientes com dores no punho.

Entre as condições mais desafiadoras que encontro em minha prática está a doença de Kienböck, uma patologia que afeta o osso semilunar do punho e pode causar significativa limitação funcional quando não diagnosticada precocemente.

A doença de Kienböck caracteriza-se pela necrose avascular do osso semilunar, um dos oito pequenos ossos do carpo que formam o punho.

Em termos simples para meus pacientes, explico que se trata da “morte” progressiva desse osso devido à interrupção do suprimento sanguíneo.

Descoberta pelo radiologista austríaco Robert Kienböck em 1910, esta condição continua intrigando especialistas em todo o mundo.

O meu objetivo com esse artigo é abordar de uma maneira mais didática essa doença, pois acredito que, quando se tem acesso a informações corretas, é possível prevenir uma série de condições de saúde.

Prevalência e Sintomas da Doença de Kienböck

A doença de Kienböck afeta predominantemente adultos jovens entre 20 e 40 anos, com ligeira predominância no sexo masculino.

Dados do Hospital das Clínicas de São Paulo indicam uma incidência de aproximadamente 7 casos por 100.000 habitantes ao ano, números similares aos encontrados em estudos internacionais publicados no Journal of Hand Surgery.

Os sintomas que os pacientes frequentemente relatam incluem:

  • Dor progressiva no punho, principalmente durante atividades que exigem dorsiflexão (dobrar o punho para trás).
  • Diminuição da força de preensão.
  • Edema localizado.

Um aspecto que sempre enfatizo durante as consultas é que a dor costuma ser insidiosa, começando de forma leve e piorando gradualmente ao longo de meses ou até anos.

Fatores de Risco e Causas

Através dos anos atendendo casos de doença de Kienböck, identifiquei diversos fatores de risco.

O mais significativo, confirmado por pesquisas da Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão, é a variação ulnar negativa, que é quando o osso ulna é mais curto que o rádio.

Esta configuração anatômica, presente em cerca de 70% dos pacientes com a doença, aumenta a carga mecânica sobre o semilunar.

Outros fatores que favorecem o desenvolvimento da doença são:

  • Microtraumas repetitivos (comum em trabalhadores manuais e atletas).
  • Trauma único significativo.
  • Uso de corticosteroides.
  • Condições sistêmicas que afetam a vascularização.

Um estudo multicêntrico brasileiro publicado em 2023 demonstrou que trabalhadores expostos a vibrações constantes, como operadores de britadeiras, apresentam risco 3,5 vezes maior de desenvolver a patologia.

Diagnóstico e Estadiamento

O diagnóstico da doença de Kienböck requer experiência e atenção aos detalhes.

Em minha rotina, inicio com radiografias simples do punho, onde posso identificar esclerose e colapso do semilunar em casos mais avançados.

Porém, sempre solicito ressonância magnética para casos iniciais, pois ela detecta alterações na vascularização antes das mudanças estruturais aparecerem.

Utilizo a classificação de Lichtman modificada, aceita internacionalmente, que divide a doença em quatro estágios.

  1. No estágio I, apenas a ressonância mostra alterações.
  2. No estágio II, aparecem mudanças radiográficas sem colapso.
  3. No estágio IIIA, há colapso do semilunar sem instabilidade carpal; no estágio IIIB, surge instabilidade rotacional do escafoide.
  4. No estágio IV, observamos artrose generalizada do punho.

Opções de Tratamento

A abordagem terapêutica varia conforme o estágio da doença e as características individuais do paciente.

Para casos iniciais (estágios I e II), geralmente o tratamento é conservador: imobilização por 3 meses, anti-inflamatórios e fisioterapia especializada.

Estudos do Hospital Albert Einstein mostram taxa de sucesso de 65% com esta abordagem em estágios precoces.

Quando o tratamento conservador falha ou em casos mais avançados, discuto opções cirúrgicas com meus pacientes.

Para punhos com variação ulnar negativa, realizo frequentemente osteotomia de encurtamento radial ou alongamento ulnar, procedimentos que redistribuem as forças no punho.

Dados de um estudo colaborativo entre instituições brasileiras e alemãs mostram 80% de bons resultados com estas técnicas em estágios II e IIIA.

Em casos de estágio IIIB, prefiro procedimentos de reconstrução como carpectomia proximal ou artrodese dos quatro cantos, preservando alguma mobilidade do punho.

Para pacientes jovens e ativos, tenho obtido excelentes resultados com enxertos vascularizados do osso pisiforme ou da porção distal do rádio.

Inovações e Perspectivas Futuras

A medicina regenerativa tem trazido novas esperanças para o tratamento da doença de Kienböck, com pesquisa utilizando células-tronco mesenquimais associadas a fatores de crescimento.

Resultados preliminares em 15 pacientes mostram melhora significativa da vascularização do semilunar em 73% dos casos após 12 meses.

Outra área promissora é o uso de implantes de pirocarbono para substituição do semilunar. Estudos europeus recentes demonstram preservação da mobilidade e alívio da dor em 85% dos pacientes após 5 anos.

Prognóstico e Qualidade de Vida

Uma pergunta frequente de meus pacientes é sobre o prognóstico a longo prazo. Baseado em minha experiência e dados da literatura, explico que o diagnóstico precoce é fundamental.

Pacientes tratados nos estágios I e II apresentam excelente prognóstico, com 90% mantendo função adequada do punho após 10 anos. Mesmo em casos avançados, as técnicas cirúrgicas modernas permitem alívio significativo da dor e preservação funcional razoável.

Um aspecto que sempre enfatizo é a importância da reabilitação. Trabalho com uma equipe multidisciplinar incluindo fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais especializados em mão.

Estudos brasileiros mostram que pacientes que completam protocolo de reabilitação adequado apresentam resultados funcionais 40% superiores.

Conclusão

A doença de Kienböck permanece um desafio na prática ortopédica, mas os avanços diagnósticos e terapêuticos das últimas décadas melhoraram significativamente o prognóstico dos pacientes.

A chave para o sucesso está no diagnóstico precoce, escolha individualizada do tratamento e acompanhamento próximo.

Como especialista em cirurgia da mão, reforço que cada caso de doença de Kienböck é único e merece avaliação cuidadosa.

A combinação de experiência clínica, tecnologia diagnóstica moderna e opções terapêuticas variadas permite oferecer esperança real aos pacientes afetados por esta condição complexa.


Se você apresenta dor persistente no punho ou recebeu diagnóstico de doença de Kienböck, não hesite em buscar avaliação especializada.

Agende sua consulta para discutirmos as melhores opções de tratamento para seu caso específico.

Com diagnóstico precoce e tratamento adequado, é possível preservar a função do seu punho e manter qualidade de vida. Entre em contato e vamos juntos encontrar a melhor solução para você!

Dr. Henrique Bufaiçal
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Dr. Henrique Bufaiçal
Dr. Henrique Bufaiçal

Ortopedista Especialista em mãos Goiânia. Há mais de 8 anos dedicando-se exclusivamente aos cuidados ortopédicos e à Cirurgia da Mão.