No dia a dia no consultório, recebo com uma certa frequência pacientes e familiares que trazem dúvidas sobre a polidactilia, uma condição congênita que chama atenção já nos primeiros dias de vida.
O termo refere-se à presença de dedos extras nas mãos ou nos pés, algo que pode variar bastante em aparência e impacto funcional.
Como é uma condição que gera muitas preocupações, enquanto ortopedista especialista em cirurgia de mão, procuro explicar de forma clara, que é o primeiro passo para um bom acompanhamento e, quando necessário, tratamento cirúrgico.
O que é polidactilia?
Polidactilia é uma anomalia congênita caracterizada pela presença de um ou mais dedos adicionais.
Esses dedos extras podem estar totalmente desenvolvidos, com osso, unha e articulações, ou podem se apresentar como pequenas saliências de tecido mole.
A condição pode afetar tanto mãos quanto pés, mas na minha rotina em consultório, noto que as mãos são a principal queixa dos pais, especialmente quando o dedo extra compromete a estética ou a função.
Muitas vezes, a família chega ao consultório ainda com o bebê recém-nascido, buscando orientação sobre o melhor momento para intervir.
Classificações
Existem três formas principais de polidactilia, e o tipo influencia diretamente na conduta terapêutica:
1. Radial (pré-axial)
É quando o dedo extra está localizado do lado do polegar.
Esse tipo é mais comum em algumas populações específicas e, dependendo da formação do dedo, pode exigir um procedimento cirúrgico mais detalhado para preservar a função do polegar, que é essencial para a preensão.
2. Ulnar (pós-axial)
Neste caso, o dedo adicional aparece do lado do dedo mínimo. É o tipo mais frequente que observo nos atendimentos.
Em muitos casos, trata-se apenas de uma estrutura de tecido mole, e a cirurgia pode ser simples e rápida, sem necessidade de internação prolongada.
3. Central
Menos comum, a polidactilia central afeta os dedos entre o polegar e o mínimo.
Esse tipo costuma vir associado a outras malformações e, por isso, exige uma avaliação mais cuidadosa com exames complementares.
Causas e fatores associados
A polidactilia geralmente está presente desde o nascimento e, na maioria das vezes, ocorre de forma isolada, sem associação com síndromes genéticas.
No entanto, em certos casos, pode estar relacionada a condições sindrômicas como a síndrome de Ellis-van Creveld ou outras alterações cromossômicas.
Por isso, sempre oriento meus pacientes — ou melhor dizendo, os pais dos meus pequenos pacientes — a realizarem uma avaliação mais ampla quando há suspeita de outros sinais clínicos.
O acompanhamento com um geneticista pode ser importante nesses cenários.
Diagnóstico e acompanhamento
O diagnóstico costuma ser clínico, feito ainda na maternidade. Com base em exames de imagem, como radiografias, é possível avaliar a estrutura óssea do dedo extra e planejar com mais precisão o tratamento.
Durante o primeiro contato com a família, busco entender as expectativas em relação à função da mão, à estética e à qualidade de vida da criança.
Nem toda polidactilia exige cirurgia imediata, e é essencial avaliar caso a caso com calma e sensibilidade.
Tratamento cirúrgico
A decisão por cirurgia depende da localização, do tipo de dedo adicional e da presença de estruturas ósseas, tendíneas e articulares.
Em geral, o procedimento é feito entre 6 meses e 1 ano de idade, quando a criança já tem estrutura óssea mais firme e o risco anestésico é menor.
Durante a cirurgia, o objetivo é não apenas remover o dedo adicional, mas também preservar ao máximo a função da mão, garantindo que a criança possa desenvolver-se com uma boa capacidade de preensão e coordenação motora.
Em alguns casos mais complexos, como na polidactilia central, pode ser necessário um planejamento mais detalhado, envolvendo a reconstrução de ligamentos ou tendões.
Nessas situações, conto com o apoio de uma equipe multidisciplinar, incluindo fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, para garantir a reabilitação completa.
Pós-operatório e reabilitação
O pós-operatório costuma ser tranquilo. Sempre explico aos pais que o uso de talas pode ser necessário por algumas semanas, e que a fisioterapia ajuda bastante na recuperação dos movimentos finos.
A maioria dos meus pacientes evolui com excelente resultado funcional e estético, especialmente quando o diagnóstico e a intervenção são feitos precocemente.
A reabilitação, mesmo que breve, faz parte fundamental do sucesso cirúrgico. A mão da criança precisa ser estimulada com brincadeiras, exercícios e cuidados específicos para garantir o uso pleno dos dedos.
Impacto emocional e acolhimento familiar
Outro ponto que sempre faço questão de abordar nas consultas é o impacto emocional que a polidactilia pode causar, tanto na criança quanto na família.
O aspecto visual diferente pode gerar insegurança, e o acolhimento desde o diagnóstico é fundamental para que todos se sintam tranquilos com o processo.
Explico que a cirurgia é segura e que, com acompanhamento adequado, os resultados tendem a ser muito satisfatórios.
Quando os pais compreendem o quadro e participam ativamente do tratamento, tudo se torna mais leve para todos.
Considerações finais
A polidactilia é uma condição comum na ortopedia pediátrica e, quando acompanhada de forma adequada, tende a ter uma excelente evolução.
Na minha experiência clínica, vejo com frequência casos que, após a correção cirúrgica, passam despercebidos com o crescimento da criança.
Se você é pai ou mãe e notou essa condição em seu filho, procure um especialista em mãos.
O diagnóstico precoce e um bom planejamento são essenciais para garantir que a função e a estética da mão sejam preservadas ao máximo.
Imagens: Créditos Pexels
- Polidactilia: Diagnóstico e Tratamento - abril 3, 2025
- Doença de Dupuytren: Sintomas, Causas e Tratamentos - abril 2, 2025
- Instabilidade da articulação rádio ulnar distal - abril 2, 2025