Dedo em Gatilho: Sintomas, Diagnóstico e Tratamentos

O dedo em gatilho, também conhecido como tenossinovite estenosante, é uma queixa comum entre os meus pacientes, sobretudo porque afeta a funcionalidade da mão.

Embora geralmente não cause incapacidade permanente, é uma condição que pode prejudicar significativamente a qualidade de vida das pessoas.

Este artigo visa proporcionar uma visão abrangente sobre a condição, abordando sua definição, aspectos anatômicos, epidemiologia, diagnóstico e opções terapêuticas.

Com base em evidências atuais e na minha experiência como ortopedista com especialização em patologias da mão em Goiânia, buscarei elucidar a complexidade dessa condição e as melhores abordagens para o tratamento.

O que é o Dedo em Gatilho?

O dedo em gatilho é uma patologia caracterizada pelo travamento do dedo em uma posição fletida, dificultando a sua extensão.

A condição ocorre devido a um espessamento da bainha do tendão flexor, particularmente na primeira polia do dedo, local onde o tendão encontra mais resistência para deslizar durante os movimentos de flexão e extensão.

Aspectos Anatômicos

Os tendões flexores dos dedos conectam os músculos do antebraço aos ossos da mão, permitindo o movimento dos dedos.

Esses tendões deslizam dentro de estruturas chamadas bainhas tendinosas, que atuam como “túneis” que facilitam seu movimento.

No dedo em gatilho, o problema surge quando ocorre um espessamento ou inflamação da bainha, geralmente na região da polia A1, que se encontra na base do dedo, resultando no bloqueio do movimento normal.

Mecanismo Fisiopatológico

Durante os movimentos de flexão e extensão, os tendões flexores deslizam livremente dentro das bainhas.

No dedo em gatilho, um nódulo inflamado se forma na bainha, impedindo que o tendão se movimente livremente.

Quando o dedo é flexionado, o tendão pode sair da bainha, mas ao tentar estender, o nódulo impede o retorno, resultando no travamento característico.

Esse mecanismo pode ser comparado a um fio com nó tentando passar por um buraco de agulha, criando resistência ao movimento.

Epidemiologia

O dedo em gatilho afeta aproximadamente 2 a 3% da população geral, sendo mais comum em mulheres, especialmente entre os 40 e 60 anos.

Estudos apontam que essa condição é particularmente prevalente em mulheres durante a gravidez, puerpério e menopausa, indicando uma possível influência hormonal.

Distribuição Anatômica

Embora qualquer dedo da mão possa ser afetado, o dedo anular e o polegar são as regiões mais comuns.

Em muitos casos, a condição pode ser unilateral, mas também pode ocorrer de forma bilateral ou afetar vários dedos ao mesmo tempo.

Fatores de Risco e Etiologia

Apesar da causa exata do dedo em gatilho seja muitas vezes desconhecida, vários fatores predisponentes têm sido identificados.

Condições Médicas Associadas

Diversas doenças sistêmicas estão relacionadas ao aumento do risco de desenvolvimento do dedo em gatilho, tais como:

  • Diabetes mellitus;
  • Artrite reumatoide;
  • Hipotireoidismo;
  • Gota;
  • Amiloidose.

Fatores Ocupacionais e Mecânicos

Movimentos repetitivos ou atividades que exigem preensão forçada, como digitação ou escrita, podem agravar a condição.

Embora essas atividades não sejam causa direta, elas podem piorar os sintomas em pacientes já afetados.

Sintomas e Manifestações Clínicas

O início do dedo em gatilho geralmente se caracteriza por dor na base do dedo afetado, principalmente na região palmar.

Essa dor tende a aumentar durante atividades que exigem flexão e extensão repetitivas do dedo.

Progressão da Condição

Com a evolução da doença, o paciente pode sentir um travamento ou ressalto doloroso ao tentar mover o dedo.

Em casos mais avançados, o dedo pode ficar permanentemente flexionado, dificultando a extensão sem a ajuda de uma força externa.

Variação Circadiana

Um aspecto peculiar do dedo em gatilho é a exacerbação dos sintomas pela manhã.

Durante o sono, o líquido corporal é redistribuído, o que pode aumentar o edema nas mãos, agravando a sensação de dor e rigidez ao acordar.

Diagnóstico

O diagnóstico do dedo em gatilho é principalmente clínico e se baseia na história do paciente e nos sinais físicos observados durante o exame:

  • Sensibilidade à palpação na base do dedo;
  • Presença de nódulo palpável na palma;
  • Travamento ou ressalto durante a movimentação do dedo;
  • Crepitação na base do dedo afetado.

Exames Complementares

Embora raramente sejam necessários, exames complementares podem ser úteis em casos atípicos:

  • Ultrassonografia: Pode mostrar o espessamento do tendão;
  • Ressonância magnética: Usada em casos mais complexos;
  • Radiografia: Realizada apenas para descartar outras condições.

Classificação

O grau de severidade do dedo em gatilho pode ser classificado de acordo com o sistema de Quinnell modificado por Green:

  • Grau I (pré-gatilho): Dor e edema sem travamento.
  • Grau II (ativo): Travamento presente, mas o paciente consegue estender o dedo ativamente.
  • Grau III (passivo): Travamento com dificuldade para estender o dedo sem ajuda externa.
  • Grau IV (contratura): Contratura fixa com incapacidade de estender o dedo sem intervenção cirúrgica.

Tratamento

O tratamento inicial para o dedo em gatilho geralmente é conservador, e envolve:

  • Anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs): Para controle da dor e redução da inflamação;
  • Imobilização: Uso de talas ou órteses, especialmente durante a noite, para limitar o movimento do tendão e reduzir a inflamação;
  • Infiltração com corticosteroides: Utilizada para reduzir rapidamente a inflamação e aliviar os sintomas. Essa é uma abordagem eficaz, especialmente nos casos mais sintomáticos;
  • Modificação de atividades: Reduzir atividades que possam piorar os sintomas também é uma recomendação comum.

Tratamento Cirúrgico

Quando o tratamento conservador não é eficaz, a cirurgia é a opção indicada.

A técnica cirúrgica mais comum é a liberação da bainha do tendão afetado, realizada por meio de uma pequena incisão.

A recuperação após a cirurgia é geralmente rápida, e a maioria dos pacientes retorna às suas atividades normais em poucas semanas.

Tratamento Pós-operatório

A reabilitação pós-cirúrgica não é sempre necessária, mas em casos de rigidez ou limitações na mobilidade, pode ser indicado o acompanhamento fisioterápico.

Dedo em Gatilho em Crianças

Embora o dedo em gatilho seja mais comum em adultos, também pode ocorrer em crianças, que geralmente afeta o polegar e é diagnosticado nos primeiros anos de vida.

O tratamento é frequentemente cirúrgico, uma vez que a condição pode levar a dificuldades de movimento se não tratada.

Conclusão

O dedo em gatilho é uma condição comum que pode afetar significativamente a qualidade de vida dos pacientes, causando dor e limitação dos movimentos da mão.

Apesar do diagnóstico ser, na maioria das vezes, clínico, a escolha do tratamento deve ser cuidadosamente considerada com base na gravidade da condição e nas necessidades do paciente.

O tratamento conservador é eficaz em muitos casos, mas a cirurgia continua sendo a solução definitiva para os casos mais graves.

Sempre reforço com meus pacientes a importância da atenção aos prmeiros sinais, e, se possível, buscar orientação ortopédica especializada o quanto antes.

Com o avanço das técnicas de diagnóstico e tratamento, como abordagens mínimamente invasivas, espera-se que a abordagem terapêutica para o dedo em gatilho evolua, proporcionando ainda melhores resultados para os pacientes.

Se você vem sofrendo com limitações decorrentes do dedo em gatilho, entre em contato conosco para uma avaliação do seu caso e juntos pensarmos na melhor abordagem terapêutica.

Imagens: Créditos Freepik

Dr. Henrique Bufaiçal
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Dr. Henrique Bufaiçal
Dr. Henrique Bufaiçal

Ortopedista Especialista em mãos Goiânia. Há mais de 8 anos dedicando-se exclusivamente aos cuidados ortopédicos e à Cirurgia da Mão.