Tenossinovite de De Quervain: Diagnóstico e Tratamento

A tenossinovite de De Quervain é uma das condições inflamatórias mais comuns que afetam o punho, resultando em dor e limitações funcionais, e tenho observado um aumento significativo de casos entre meus pacientes.

Como ortopedista especialista em mãos em Goiânia, posso afirmar que esta inflamação dos tendões do abdutor longo do polegar (ALP) e do extensor curto do polegar (ECP) pode ser extremamente debilitante quando não tratada adequadamente.

Diariamente, recebo pacientes com dor intensa na região lateral do punho, próxima à base do polegar, que se agrava com movimentos repetitivos como segurar objetos, torcer panos ou manusear smartphones.

O diagnóstico preciso e o tratamento adequado são fundamentais para restaurar a função do polegar e aliviar a dor.

O meu objetivo com este artigo é fornecer uma visão abrangente sobre a tenossinovite de De Quervain, explorando sua fisiopatologia, fatores de risco, diagnóstico, opções de tratamento e prognóstico, com ênfase nas abordagens mais eficazes para o controle dessa condição.

O que é a Tenossinovite de De Quervain?

A tenossinovite de De Quervain é uma condição inflamatória que afeta os tendões localizados no primeiro compartimento extensor do punho.

Esses tendões, o abdutor longo do polegar (ALP) e o extensor curto do polegar (ECP), são responsáveis por movimentos essenciais como a abdução e a extensão do polegar.

A inflamação da bainha sinovial que envolve esses tendões pode causar dor significativa, restringindo a capacidade do paciente de realizar tarefas simples, como segurar objetos ou escrever.

Epidemiologia e Fatores de Risco

A tenossinovite de De Quervain afeta principalmente mulheres na faixa etária entre 30 e 50 anos, com uma prevalência 8 a 10 vezes maior em relação aos homens.

É especialmente prevalente durante períodos de flutuação hormonal, como na gravidez, puerpério e perimenopausa.

Essas flutuações hormonais podem contribuir para o aumento da retenção de líquidos nos tecidos, o que, por sua vez, pode agravar a compressão dos tendões e o risco de inflamação.

Fatores ocupacionais e comportamentais também estão intimamente relacionados à ocorrência de tenossinovite de De Quervain, como atividades que exigem movimentos repetitivos do polegar, como digitação, uso constante de smartphones ou manuseio de ferramentas.

Alguns estudos sugerem que condições sistêmicas, como diabetes e artrite reumatoide, também estão associadas a uma maior propensão à tenossinovite de De Quervain.

Anatomia e Fisiopatologia

A compreensão da anatomia do punho e do primeiro compartimento extensor é essencial para entender os mecanismos fisiopatológicos da tenossinovite de De Quervain.

O primeiro compartimento extensor é formado por um túnel osteofibroso, através do qual os tendões do ALP e ECP passam. O retináculo extensor, uma estrutura fibrosa, mantém os tendões próximos aos ossos e orienta seus movimentos.

A inflamação nesta região leva ao espessamento do retináculo extensor e à degeneração das bainhas sinoviais, resultando em estenose do túnel tendíneo.

Isso causa uma compressão adicional nos tendões, dificultando o seu deslizamento e aumentando o atrito, o que piora a dor e perpetua o ciclo inflamatório.

A presença de variações anatômicas, como múltiplos tendões ou septos divisionais, pode agravar ainda mais a condição, tornando o tratamento mais complexo.

Manifestações Clínicas

Com base nas queixas relatadas por meus pacientes, destaco os seguintes sintomas:

  • Dor, que geralmente ocorre na face lateral do punho, podendo irradiar para o polegar ou antebraço.
  • Piora da dor com movimentos que envolvem o polegar, como pegar objetos, torcer o punho ou fechar a mão.
  • Atividades cotidianas, como abrir frascos, abotoar roupas ou segurar objetos pesados, se tornam difíceis devido à dor e à perda de força de preensão.
  • A crepitação, que ocorre durante o movimento dos tendões.

Durante o exame físico, é comum observar edema e sensibilidade à palpação sobre o primeiro compartimento extensor.

Diagnóstico

O diagnóstico da tenossinovite de De Quervain é predominantemente clínico. O teste de Finkelstein é o exame mais utilizado e é considerado patognomônico.

Nesse teste, o paciente deve fechar a mão, colocando o polegar dentro da palma, e realizar um desvio ulnar do punho.

A dor intensa durante esse movimento é característica da tenossinovite e confirma a suspeita clínica.

Quando necessário, solicito exames complementares como ultrassonografia de alta resolução para observar alterações na bainha sinovial e nos tendões.

Esse exame serve para visualizar espessamento da bainha, efusão sinovial e outras variações anatômicas que possam dificultar o tratamento.

Radiografias simples podem ser pedidas para descartar fraturas associadas, e exames laboratoriais podem ser úteis em casos de suspeita de condições sistêmicas, como artrite reumatoide.

Tratamento Conservador

A maioria dos casos de tenossinovite de De Quervain responde bem ao tratamento conservador. O objetivo é reduzir a inflamação, aliviar a dor e melhorar a função do punho e do polegar.

As principais abordagens conservadoras que geralmente recomendo consistem em:

1. Imobilização

O uso de órteses ou talas gessadas é fundamental no tratamento conservador. Elas ajudam a imobilizar o punho e o polegar, permitindo que os tendões inflamados descansem e a inflamação diminua.

O período recomendado de imobilização varia, mas normalmente é de até seis semanas.

2. Anti-inflamatórios

O uso de medicamentos anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) ajuda a reduzir a dor e a inflamação.

Esses medicamentos são eficazes para controlar os sintomas no início do tratamento.

3. Infiltração de Corticosteroides

A infiltração local de corticosteroides no primeiro compartimento extensor tem mostrado excelentes resultados para reduzir a inflamação e aliviar a dor.

Essa abordagem pode ser particularmente eficaz em pacientes que não respondem bem ao uso de AINEs ou à imobilização.

4. Fisioterapia

Após a fase aguda de inflamação, eu indico a fisioterapia para otimizar a recuperação.

O tratamento geralmente envolve exercícios de fortalecimento, alongamento e técnicas de mobilização, visando restaurar a amplitude de movimento e a funcionalidade do punho e do polegar.

Tratamento Cirúrgico

Quando o tratamento conservador não é eficaz ou quando os sintomas persistem por mais de 3 a 6 meses, a intervenção cirúrgica pode ser necessária.

O procedimento padrão consiste na liberação do retináculo extensor do primeiro compartimento, permitindo que os tendões deslizem livremente.

A cirurgia é geralmente realizada por meio de uma incisão longitudinal ou transversal sobre o primeiro compartimento extensor.

Priorizo técnicas minimamente invasivas, como a cirurgia endoscópica, que além de ótimos resultados, oferece menos trauma cirúrgico e recuperação mais rápida.

Prognóstico e Prevenção

O prognóstico da tenossinovite de De Quervain é favorável, especialmente quando diagnosticada precocemente e tratada adequadamente.

A maioria dos pacientes apresenta uma resposta positiva ao tratamento conservador. Em casos em que a cirurgia é necessária, os resultados também são bons, com taxa de sucesso superior a 90%.

Medidas preventivas, como modificações ergonômicas no ambiente de trabalho e o fortalecimento dos músculos do antebraço, podem ajudar a reduzir o risco de desenvolvimento ou recorrência da tenossinovite.

Pacientes com condições sistêmicas como diabetes ou artrite reumatoide devem ser monitorados de perto para evitar complicações.

Conclusão

A tenossinovite de De Quervain é uma condição relativamente comum, mas tratável, que pode causar dor e limitações funcionais significativas no punho e polegar.

Com diagnóstico precoce e tratamento adequado, a maioria dos pacientes consegue alcançar uma recuperação completa.

A abordagem conservadora é a indicação inicial, com intervenções cirúrgicas reservadas para casos persistentes ou refratários.

Com avanços em pesquisas sobre os fatores fisiopatológicos, diagnósticos e opções de tratamento, certamente os pacientes se beneficiarão no que diz respeito aos cuidados dessa condição.

Se você se identificou com alguns dos sintomas descritos acima, busque o quanto antes uma avaliação ortopédica especializada e assim evitar maiores desconfortos.

Imagens: Créditos Freepik

Dr. Henrique Bufaiçal
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Dr. Henrique Bufaiçal
Dr. Henrique Bufaiçal

Ortopedista Especialista em mãos Goiânia. Há mais de 8 anos dedicando-se exclusivamente aos cuidados ortopédicos e à Cirurgia da Mão.