O polegar duplicado é uma condição congênita que costumo observar com certa frequência em minha prática clínica, principalmente em recém-nascidos trazidos por seus pais logo nos primeiros meses de vida.
Esse quadro, também chamado de polidactilia radial ou duplicação do polegar, envolve a formação de dois polegares na mesma mão. Pode parecer algo raro, mas representa uma das malformações mais comuns dos membros superiores.
Ao longo de mais de 14 anos atuando como ortopedista com especialização em mãos, tenho acompanhado diversos casos com diferentes graus de duplicação.
Em alguns pacientes, os dois polegares são quase completos e funcionais, enquanto em outros, um deles é rudimentar, com pouca ou nenhuma mobilidade.
Vamos ver agora as principais causas, os diferentes tipos, além de tratamentos e dicas para os pais!
O que causa o polegar duplicado
A formação do polegar duplicado ocorre ainda nas primeiras semanas da gestação, durante o desenvolvimento embrionário.
A estrutura da mão começa a se formar por volta da quinta semana, e qualquer alteração nesse processo pode levar a malformações.
Na maioria dos casos, o polegar duplicado surge de forma isolada, sem estar associado a outras síndromes.
Mas existem situações em que essa condição está presente dentro de um quadro sindrômico, exigindo uma avaliação mais ampla. Durante a consulta, costumo solicitar exames complementares e, quando necessário, o encaminhamento para avaliação genética.
A duplicação pode ocorrer apenas na falange distal, afetar todas as falanges ou envolver também os ossos do metacarpo. Cada padrão anatômico influencia diretamente na abordagem cirúrgica.
Classificação da duplicação do polegar
Na ortopedia, utilizamos a classificação de Wassel para categorizar os diferentes tipos de polegar duplicado. Essa classificação vai do tipo I ao tipo VII, de acordo com o nível ósseo da duplicação.
Veja um resumo dos principais tipos:
- Tipo I: duplicação apenas da falange distal.
- Tipo II: duplicação completa da falange distal.
- Tipo III: duplicação da falange proximal.
- Tipo IV: duplicação completa de falanges proximais e distais (tipo mais comum).
- Tipo V a VII: envolvem duplicações mais complexas, incluindo o metacarpo.
Ter clareza sobre o tipo de duplicação permite planejar de forma mais precisa a correção cirúrgica, respeitando a anatomia individual de cada paciente.
Sintomas
Os sintomas do polegar duplicado são principalmente estéticos e funcionais:
- O bebê pode nascer com um polegar adicional que pode estar unido ou separado do polegar normal.
- A extensão da duplicação pode variar, desde a ponta do dedo até o dedo inteiro.
- Os dois polegares geralmente são mais finos do que o habitual, e o crescimento pode levar a uma maior deformidade ao longo do tempo.
Em alguns casos, a presença do polegar duplicado pode causar problemas de alinhamento ou mobilidade, mas a condição em si é indolor.
Quando indicar a cirurgia
A maioria dos meus pacientes com polegar duplicado é encaminhada para avaliação ainda na infância. O ideal é que o tratamento seja realizado entre 12 e 18 meses de idade.
Nesse período, os ossos estão em desenvolvimento, e a reabilitação tende a ser mais eficaz.
A indicação cirúrgica se baseia em três aspectos principais:
- Estética – Muitos pais se preocupam com a aparência da mão da criança.
- Função – Um polegar duplicado pode prejudicar a preensão e o movimento fino.
- Desenvolvimento motor – O atraso na coordenação pode se tornar mais evidente com o passar do tempo.
Na maior parte dos casos, o procedimento consiste em remover o polegar menos funcional e reconstruir ligamentos, tendões e articulações do polegar que será preservado.
Meu objetivo como especialista é garantir que a criança tenha uma mão funcional e o mais próxima possível da anatomia normal.
Cuidados no pós-operatório
Após a cirurgia, os pais são orientados sobre a importância de um bom acompanhamento.
O uso de talas é comum nas primeiras semanas para proteger a reconstrução. Também é importante contar com a atuação da terapia da mão, que ajuda no ganho de mobilidade e força.
Sempre reforço que, mesmo após uma cirurgia bem-sucedida, a mão continuará em desenvolvimento, o que pode exigir reavaliações ao longo da infância. Em alguns casos, pode ser necessário um segundo procedimento para ajustes finos ou correções de sequelas.
Prognóstico e qualidade de vida
Quando o tratamento é feito no tempo certo e com técnica adequada, o prognóstico costuma ser excelente. Tenho pacientes que hoje são adolescentes ou adultos e usam a mão operada sem qualquer limitação funcional.
É importante esclarecer que o objetivo não é apenas “remover um dedo a mais”, mas sim reconstruir uma estrutura funcional que permita força, precisão e estética adequada.
Cada cirurgia é única, porque cada polegar duplicado apresenta características próprias.
Orientações para os pais
Durante a consulta, percebo que muitos pais chegam ansiosos ou com medo de que a condição possa comprometer o futuro da criança.
Sempre procuro acolher essas preocupações e oferecer informações claras sobre o diagnóstico e as possibilidades de tratamento.
Se você é pai ou mãe e observou alguma alteração na mão do seu bebê, o mais indicado é buscar a avaliação com um ortopedista especialista em mão.
Quanto mais precoce for o acompanhamento, melhor será o planejamento terapêutico.
Imagens: Créditos Pexels
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