Neurite do Ciclista: Sintomas e Como Tratar

A prática do ciclismo se popularizou nos últimos anos, especialmente após a pandemia, quando muitas pessoas passaram a buscar atividades físicas ao ar livre e meios alternativos de transporte.

Como cirurgião especialista em mão em Goiânia, tenho observado um aumento significativo nos casos de neurite do ciclista em meu consultório.

Esta condição, até como o nome já indica, afeta com mais frequência os entusiastas do ciclismo, mas também pode acometer qualquer pessoa que submeta as mãos a pressão prolongada ou repetitiva.

Em minha prática clínica diária, tenho dedicado atenção especial a esta condição que, embora não seja grave, pode comprometer significativamente a qualidade de vida dos pacientes quando não tratada adequadamente.

Neste artigo, compartilho as causas da neurite do ciclista, como identificar seus sintomas característicos, os métodos diagnósticos mais precisos, as opções de tratamento e estratégias eficazes de prevenção.

Meu objetivo é fornecer informações claras e práticas para ajudar tanto ciclistas quanto outros pacientes a entenderem e lidarem com esta condição.

O que é a neurite do ciclista?

A neurite do ciclista, também conhecida como paralisia do ciclista ou paralisia do guidão, é uma condição que afeta o nervo ulnar, um dos principais nervos da mão.

Essa lesão ocorre devido à compressão ou irritação do nervo ulnar, resultando em dor, formigamento e dormência na mão e no antebraço.

Vale destacar que essa condição não deve ser confundida com a “Síndrome do Ciclista” (ou neuralgia do pudendo), que atinge a região do períneo em razão da pressão prolongada do selim.

Anatomia e função do nervo ulnar

O nervo ulnar se origina das raízes nervosas das vértebras C8 e T1. Ele percorre o braço e o antebraço até chegar à mão, sendo responsável por várias funções essenciais:

  • Comunicação entre o cérebro e os músculos do antebraço e da mão;
  • Sensibilidade no dedo mínimo, metade do dedo anelar e parte da palma da mão;
  • Controle dos pequenos músculos da mão, essenciais para os movimentos finos;
  • Capacidade de realizar movimentos como a pinça entre o dedo mínimo e o polegar.

É um nervo vital para as funções manuais, e sua compressão pode afetar significativamente a habilidade de realizar tarefas delicadas com as mãos.

Locais de compressão do nervo ulnar

A compressão do nervo ulnar pode ocorrer principalmente em duas áreas anatômicas:

  1. Túnel Cubital (no cotovelo): Local mais comum de compressão, onde o nervo pode ser comprimido devido a pressão constante.
  2. Canal de Guyon (no punho): Outra área onde o nervo pode ser comprimido, embora com menor frequência do que no cotovelo.

Causas

Vários fatores relacionados ao ciclismo podem causar ou agravar a neurite do ciclista. As principais causas incluem:

Postura e posicionamento

A postura comum durante o ciclismo envolve o tronco dobrado para frente e os cotovelos flexionados, o que pode aumentar a pressão sobre o nervo ulnar.

A hiperextensão do punho, especialmente quando o ciclista apoia as mãos na parte inferior do guidão, também contribui para a compressão do nervo.

Pressão mecânica

A pressão prolongada nas mãos durante os passeios longos e a compressão direta na região hipotenar (a parte da palma da mão abaixo do dedo mínimo) são fatores de risco importantes.

Além disso, a vibração constante transmitida pelo guidão, sobretudo em terrenos irregulares, pode aumentar o risco de lesão.

Sintomas

A neurite do ciclista costuma se manifestar de forma gradual, com os seguintes sintomas:

Sinais iniciais

  • Formigamento intermitente no lado ulnar da mão (dedo mínimo e metade do dedo anelar);
  • Sensação de alívio ao balançar a mão ou mudar a posição no guidão;
  • Desconforto que geralmente desaparece após o término da atividade.

Progressão da condição

  • Dormência e formigamento persistentes no antebraço e dedos;
  • Dor na região interna do antebraço;
  • Sensibilidade aumentada na articulação do cotovelo;
  • Fraqueza nas mãos, dificultando movimentos finos.

Casos avançados

  • Anestesia nos dedos afetados;
  • Dificuldade para realizar movimentos como aproximar o dedo mínimo do anelar;
  • Fraqueza muscular e possível perda de massa muscular;
  • Em casos graves, pode ocorrer “garra” dos dedos mínimo e anelar;
  • Sintomas que persistem por dias, semanas ou até meses após a atividade.

Diagnóstico

Avalio frequentemente pacientes com neurite do ciclista em meu consultório. O diagnóstico desta condição requer uma abordagem sistemática e cuidadosa.

O processo diagnóstico baseia-se principalmente na combinação de uma anamnese detalhada e um exame físico minucioso. Durante a consulta, investigo os hábitos de ciclismo do paciente, incluindo a frequência, duração das pedaladas, tipo de bicicleta utilizada e posicionamento das mãos no guidão.

No exame físico, realizo testes específicos para avaliar a sensibilidade na distribuição do nervo ulnar, particularmente no quinto dedo e na metade ulnar do quarto dedo.

Também avalio a força dos músculos intrínsecos da mão, como o adutor do polegar e os músculos interósseos, que são comumente afetados nesta condição.

Em determinados casos, solicito eletroneuromiografia, principalmente quando o diagnóstico clínico não é conclusivo ou quando suspeito de outras neuropatias associadas. Este exame é valioso para confirmar o local exato da compressão nervosa e avaliar sua gravidade, auxiliando na decisão terapêutica.

Ocasionalmente, exames de imagem como ultrassonografia ou ressonância magnética do punho e da mão podem ser indicados para descartar lesões estruturais que possam estar comprimindo o nervo ulnar, como cistos, tumores ou alterações ósseas.

Tratamentos

O tratamento para a neurite do ciclista pode variar conforme a gravidade da condição, sendo dividido entre abordagens conservadoras e, em casos mais graves, intervenções cirúrgicas.

Tratamento conservador

  • Medicamentos anti-inflamatórios: Para aliviar a dor e reduzir a inflamação;
  • Uso de talas: Para imobilização e proteção do nervo afetado;
  • Fisioterapia: Ajudando na recuperação funcional e na prevenção de complicações.
  • Técnicas de liberação miofascial, eletroterapia e mobilizações articulares.

Correção da causa primária

É fundamental corrigir a causa da compressão. Caso a pressão sobre a região afetada continue, os sintomas podem persistir.

Ajustes na postura e no posicionamento na bicicleta, além de fortalecimento dos músculos estabilizadores, são essenciais.

Intervenção cirúrgica

A cirurgia é uma opção rara, sendo considerada apenas quando o tratamento conservador não apresenta resultados satisfatórios.

Prevenção

Diversas estratégias podem ser adotadas para evitar o desenvolvimento da neurite do ciclista. Recomendo aos meus pacientes a adotarem as seguintes medidas:

Ajustes na bicicleta

  • Adquirir uma bicicleta adequada ao tamanho do ciclista;
  • Ajustar corretamente a posição do selim, guidão e outros componentes com a ajuda de um especialista.

Técnicas de pedalada

  • Alternar a posição das mãos no guidão para evitar a pressão prolongada em um mesmo ponto;
  • Evitar a hiperextensão constante do punho.

Equipamentos de proteção

  • Utilizar luvas acolchoadas, especialmente na região hipotenar;
  • Optar por guidões ergonômicos ou com extensões que permitam mudar as posições das mãos.

Fortalecimento e preparação física

Realizar exercícios de fortalecimento para os músculos estabilizadores e melhorar a mobilidade articular.

Outras condições relacionadas ao ciclismo

Além da neurite do ciclista, outras condições podem afetar os ciclistas, como:

  • Neuralgia do Pudendo (Síndrome do Ciclista): Lesão que ocorre devido à pressão prolongada na região do períneo.
  • Lesões musculoesqueléticas: Como tendinite patelar e tendinite de Aquiles.
  • Lesões traumáticas: Acidentes com ciclistas, como quedas e colisões com veículos, estão em aumento, representando um risco significativo.

Daí a importância de uma avaliação clínica especializada, a fim de descartar outros problemas associados.

Conclusão

A neurite do ciclista é uma condição comum entre praticantes desse esporte e pode afetar a qualidade de vida e o desempenho.

A prevenção, por meio de ajustes na bicicleta, técnicas corretas de pedalada e o uso de equipamentos de proteção, é a melhor estratégia.

A minha orientação é buscar orientação médica sempre no caso de persistência de sintomas, para obter um diagnóstico preciso e tratamento adequado.

Com as medidas corretas, é possível continuar aproveitando os benefícios do ciclismo de maneira saudável e segura.

Mas caso você ainda tenha alguma dúvida ou queira saber mais detalhes sobre as abordagens terapêuticas, terei o maior prazer em atendê-lo!

Dr. Henrique Bufaiçal
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Dr. Henrique Bufaiçal
Dr. Henrique Bufaiçal

Ortopedista Especialista em mãos Goiânia. Há mais de 8 anos dedicando-se exclusivamente aos cuidados ortopédicos e à Cirurgia da Mão.