O plexo braquial é uma das estruturas nervosas mais complexas e essenciais para o movimento e a sensação do membro superior.
Quando há a ocorrência de lesões do plexo braquial, seja por traumatismos, complicações obstétricas ou processos compressivos, as consequências funcionais são frequentemente graves e, por vezes, permanentes.
Em minha prática clínica como especialista em patologias da mão em Goiânia, observo diariamente o impacto devastador que essas lesões exercem sobre a funcionalidade e qualidade de vida dos pacientes.
Este artigo examina as lesões do plexo braquial, abordando aspectos anatômicos, epidemiológicos, diagnóstico, tratamentos e reabilitação, com base nas evidências mais recentes.
Compreender profundamente estas lesões é o primeiro passo para oferecer aos pacientes os melhores resultados possíveis, restaurando não apenas a função do membro superior, mas principalmente devolver autonomia e qualidade de vida.
Anatomia do plexo braquial
O plexo braquial é uma rede complexa de nervos originada das raízes nervosas que saem da medula espinhal nas regiões cervical e torácica superiores, mais especificamente das raízes C5 a T1.
Esses nervos se agrupam, se dividem e se reorganizam em troncos, divisões, fascículos e nervos, criando uma rede que inerva os músculos e a pele do membro superior.
A principal função do plexo braquial é a coordenação e controle motor dos músculos do membro superior, incluindo os músculos do ombro, braço, antebraço e mão.
Ele também é responsável pela sensação de toque, dor, temperatura e outras sensações, permitindo uma interação funcional com o ambiente.
Epidemiologia das lesões do plexo braquial
As lesões do plexo braquial são comuns em trauma de alta energia, especialmente em acidentes automobilísticos, quedas de altura e ferimentos por arma de fogo.
No Brasil, estima-se que a incidência anual seja de aproximadamente 1,88 casos por 100.000 habitantes.
Um estudo revelou que as lesões do plexo braquial representam de 10% a 20% das lesões do sistema nervoso periférico, com 80% a 90% dessas ocorrendo devido a acidentes de trânsito, principalmente acidentes motociclísticos.
Essas lesões são mais frequentes em adultos jovens do sexo masculino, com a maior parte dos casos ocorrendo entre indivíduos de 20 a 40 anos.
As lesões podem ocorrer também durante o parto, com o trauma obstétrico sendo uma causa importante de lesão do plexo braquial em recém-nascidos.
Classificação das lesões
As lesões do plexo braquial são classificadas em diferentes tipos, com base na sua localização, na gravidade da lesão e no mecanismo do trauma.
Compreender essas categorias ajuda a determinar o prognóstico e o plano de tratamento adequado.
Quanto ao nível de acometimento
- Lesão do Tronco Superior (C5-C6) – Conhecida como paralisia de Erb, afeta os músculos responsáveis pela abdução do ombro, rotação lateral do braço, flexão do cotovelo e supinação do antebraço. Essa lesão resulta na clássica posição de “mão de garçom”, com o braço em adução, rotação interna e a mão em flexão.
- Lesão do Tronco Superior e Médio (C5-C7) – Além dos sintomas da paralisia de Erb, essa lesão também atinge a extensão do cotovelo, punho e dedos. A gravidade do comprometimento depende da extensão da lesão.
- Lesão do Tronco Inferior (C8-T1) – Acomete principalmente os músculos da mão, levando à perda de funções motoras e sensoriais da mão e dos dedos, o que resulta em dificuldades significativas nas atividades diárias.
- Lesão Total do Plexo Braquial (C5-T1) – Afeta todas as áreas motoras e sensoriais do membro superior, acarretando paralisia completa ou severamente debilitante do braço.
Quanto à gravidade da lesão nervosa
- Neuropraxia – A lesão mais leve, em que há uma interrupção temporária da condução nervosa, mas sem degeneração axonal. É possível a recuperação total após algumas semanas ou meses.
- Axonotmese – Lesão mais grave, onde ocorre a degeneração dos axônios, contudo, a estrutura de suporte (como as células de Schwann) permanece intacta, possibilitando a regeneração com o tempo.
- Neurotmese – Lesão grave, com a ruptura completa do nervo, necessitando de intervenção cirúrgica para reparação.
Etiologia e mecanismos de lesão
As lesões do plexo braquial podem ocorrer por uma variedade de mecanismos, sendo os mais comuns:
- Tração – Esse é o mecanismo mais frequente, principalmente em acidentes de motocicleta e em situações em que há uma distensão rápida do pescoço ou ombro.
- Compressão – Pode ocorrer devido à presença de hematomas ou massas que comprimem os nervos do plexo braquial.
- Trauma direto – Inclui ferimentos penetrantes, como os causados por armas de fogo ou facas, que causam a secção do plexo braquial.
- Trauma obstétrico – Comum durante partos difíceis, principalmente em bebês com peso elevado, resultando em lesões que afetam os nervos do plexo braquial, especialmente nas áreas C5-C6.
- Causas não traumáticas – Em casos raros, tumores ou infecções, como aquelas resultantes de radioterapia, podem lesionar o plexo braquial.
Manifestações clínicas
Dependendo do nível e da gravidade, as lesões do plexo braquial se manifestam de formas variadas, sendo os sintomas mais comuns:
- Alterações motoras – Fraqueza muscular, paralisia parcial ou total do membro superior. Pode haver dificuldades para mover o ombro, cotovelo, punho ou dedos, conforme o nível de lesão.
- Alterações sensoriais – Perda de sensibilidade ou alterações na sensação de toque, dor e temperatura no braço e na mão.
- Dor – A dor é uma queixa frequente e debilitante, podendo persistir mesmo após intervenção cirúrgica. Essa dor pode ser descrita como aguda ou em queimação, afetando entre 67% a 95% dos pacientes.
- Alterações vasomotoras – Podem incluir inchaço (edema), cianose (coloração azulada da pele) e alterações de temperatura.
Diagnóstico
O diagnóstico de lesões do plexo braquial é realizado por meio de uma combinação de avaliação clínica detalhada e exames complementares.
Avaliação clínica
A anamnese detalhada, em que se investigam a história do trauma e os sintomas, é essencial para definir o nível e a gravidade da lesão.
O exame físico envolve a avaliação da força muscular, sensibilidade e reflexos.
Exames complementares
Para confirmar o diagnóstico, geralmente solicito os seguintes exames:
- Eletroneuromiografia (ENMG) – Fundamental para confirmar o diagnóstico e avaliar a gravidade da lesão. A ENMG pode detectar lesões subclínicas, mostrando a extensão da lesão neural.
- Ressonância magnética (RM) – Utilizada para observar a anatomia do plexo braquial e identificar avulsões radiculares ou outras lesões no nervo.
- Mielografia e tomografia computadorizada – São úteis para detectar avulsões radiculares e outras lesões do plexo, complementando os achados da RM.
- Ultrassonografia – Um método emergente, especialmente útil para avaliar lesões obstétricas.
O diagnóstico precoce e a intervenção imediata são essenciais para otimizar a recuperação funcional, sendo que o tempo entre o trauma e a consulta especializada afeta diretamente o prognóstico.
Tratamento
A definição do tratamento das lesões do plexo braquial depende de vários fatores, como o tipo, a localização e a gravidade da lesão.
A abordagem pode ser conservadora ou cirúrgica, dependendo da avaliação inicial.
Tratamento conservador
O tratamento conservador é indicado para lesões leves, como neuropraxias, ou quando há uma expectativa de recuperação espontânea. Este tratamento inclui:
- Controle da dor – O uso de analgésicos e técnicas de estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) pode ser utilizado para controlar a dor.
- Fisioterapia precoce – A fisioterapia visa prevenir contraturas, manter a amplitude de movimento e evitar atrofia muscular.
- Acompanhamento regular – O acompanhamento clínico é fundamental para avaliar a evolução da lesão e determinar a necessidade de cirurgia.
Tratamento cirúrgico
A intervenção cirúrgica é indicada para lesões mais graves ou quando não há sinais de recuperação espontânea. As técnicas que podem ser adotadas são:
- Neurólise externa – Liberação de aderências ao redor dos nervos quando ainda há continuidade nervosa.
- Enxertos de nervos – No caso de perda de substância nervosa, enxertos de nervos podem ser usados para restaurar a continuidade.
- Transferências nervosas (neurotizações) – Nervo saudável é redirecionado para suprir áreas afetadas. A técnica de Oberlin é uma das mais eficazes para restaurar a função do cotovelo.
Reabilitação
A reabilitação desempenha um papel chave na recuperação dos pacientes. Ela começa o mais cedo possível e envolve técnicas específicas, como:
- Fase inicial – A dor é controlada e a amplitude de movimento é mantida.
- Reeducação neuromotora – O objetivo é estimular a função muscular à medida que ocorre a regeneração nervosa.
- Treinamento funcional – Adaptação dos pacientes a atividades diárias, com a ajuda de terapeutas ocupacionais.
Prognóstico e recuperação funcional
O prognóstico depende de vários fatores, como a idade do paciente, o tipo de lesão e o tempo entre o trauma e o início do tratamento.
Pacientes mais jovens geralmente apresentam melhores resultados.
A recuperação de lesões do plexo braquial pode ser lenta, com os nervos cicatrizando gradualmente ao longo de meses.
Conclusão
As lesões do plexo braquial são condições complexas que exigem diagnóstico precoce e uma abordagem terapêutica adequada.
Embora os avanços em técnicas microcirúrgicas e reabilitação tenham melhorado as perspectivas de recuperação, muitos pacientes ainda enfrentam desafios significativos em termos de dor persistente e perda funcional.
O primeiro passo é consultar um ortopedista especialista em mão para obter o diagnóstico correto e ter acesso ao melhor tratamento.
A abordagem multidisciplinar é fundamental para uma recuperação bem-sucedida, e os esforços contínuos em pesquisa e desenvolvimento de novas técnicas são essenciais para otimizar os resultados para os pacientes.
Se você suspeita de uma lesão do plexo braquial, nossa equipe está à sua disposção para esclarecer qualquer dúvida!
Imagens: Créditos Freepik
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