Atendo com frequência pacientes que chegam preocupados com a rigidez ou curvatura progressiva de um ou mais dedos.
Esse quadro é característico da Doença de Dupuytren, uma condição que evolui lentamente, mas pode impactar significativamente a função e a qualidade de vida das pessoas.
Essa enfermidade não costuma causar dor intensa, mas limita movimentos simples como apertar a mão, segurar objetos ou colocar a palma da mão sobre uma superfície plana.
É um problema mais comum do que se imagina, principalmente entre homens com mais de 50 anos, embora mulheres também possam ser afetadas.
Na minha prática como médico especializado em ortopedia de mão, sempre priorizo uma comunicação clara com meus pacientes, pois o acesso a informações certas faz toda diferença na busca do diagnóstico e adesão ao tratamento.
O meu objetivo com esse conteúdo é explicar de forma detalhada o que é Doença de Dupuytren, sintomas, causas e opções de tratamento.
O que é a Doença de Dupuytren?
A Doença de Dupuytren é um espessamento anormal da fáscia palmar, uma camada de tecido fibroso logo abaixo da pele da palma da mão.
Com o tempo, essa fáscia se contrai e forma cordões endurecidos, puxando os dedos — geralmente o anelar e o mínimo — para uma posição dobrada.
O processo é lento e pode levar meses ou anos para evoluir. Inicialmente, muitos pacientes percebem apenas um nódulo indolor na palma.
Porém, conforme a retração progride, a mobilidade dos dedos é cada vez mais prejudicada, interferindo nas tarefas do dia a dia.
Causas e fatores de risco
Apesar dos avanços na medicina, ainda não existe uma causa única identificada para a Doença de Dupuytren. O que sabemos é que há uma forte predisposição genética envolvida.
Muitos dos meus pacientes relatam casos semelhantes na família, especialmente entre pais e avós.
Alguns fatores de risco são frequentemente observados:
- Histórico familiar da doença;
- Sexo masculino, com maior incidência;
- Idade superior a 50 anos;
- Diabetes, especialmente o tipo 2;
- Consumo excessivo de álcool;
- Tabagismo;
- Epilepsia, em pacientes que fazem uso prolongado de medicamentos anticonvulsivantes.
É importante lembrar que a presença de um ou mais desses fatores não significa que a pessoa terá a doença, mas aumenta as chances de desenvolvê-la.
Diagnóstico na prática clínica
O diagnóstico da Doença de Dupuytren costuma ser clínico. Na maioria dos casos, é possível identificar a condição apenas com exame físico, sem necessidade de exames de imagem.
Por exemplo, a presença de nódulos ou cordões na palma e contratura nos dedos.
Durante a consulta, o paciente é solicitado a tentar encostar a mão aberta sobre a mesa.
Quando há limitação, esse é um sinal importante de progressão da doença. Essa simples manobra, chamada “teste da mesa”, é bastante útil na avaliação.
Quando tratar?
Nem todo caso de Doença de Dupuytren exige intervenção imediata. Muitos pacientes convivem com a condição por anos sem limitações funcionais significativas.
O tratamento é indicado quando a contratura interfere nas atividades cotidianas ou ameaça avançar rapidamente.
Sempre que possível, priorizo abordagens menos invasivas no início, contudo, quando o dedo não consegue mais se estender completamente ou há prejuízo para funções básicas da mão, a indicação cirúrgica deve ser considerada.
Opções de tratamento
Existem diferentes formas de tratamento para a Doença de Dupuytren, e a escolha depende do estágio da doença, da idade do paciente e do grau de limitação funcional.
- Observação ativa: Em casos iniciais, sem impacto funcional, o acompanhamento periódico pode ser suficiente.
- Infiltração com colagenase: Uma enzima é injetada na corda fibrosa, promovendo sua fragmentação. É um procedimento minimamente invasivo, realizado em consultório.
- Aponeurotomia com agulha (fasciotomia percutânea): Uma agulha é usada para romper o cordão fibroso, permitindo a extensão do dedo. É feita com anestesia local e tem rápida recuperação.
- Cirurgia aberta (fasciectomia): Em casos mais avançados, é necessário remover cirurgicamente os tecidos comprometidos. Essa opção exige um tempo maior de recuperação, mas proporciona resultados mais duradouros.
A decisão é sempre compartilhada com o paciente, considerando riscos, benefícios e expectativas de resultado.
Recuperação e reabilitação
Após qualquer procedimento, o acompanhamento fisioterapêutico é fundamental. A reabilitação auxilia na recuperação da mobilidade e na prevenção de novas retrações.
Muitos dos meus pacientes relatam melhora significativa da função da mão após o tratamento, especialmente quando o diagnóstico foi feito precocemente.
É comum o uso de órteses no período pós-operatório, para manter os dedos em posição adequada enquanto o tecido cicatriza. O engajamento do paciente nesse processo é essencial para o sucesso do tratamento.
Expectativas a longo prazo
A Doença de Dupuytren é crônica e pode apresentar recidivas ao longo do tempo. Mesmo após o tratamento bem-sucedido, há chance de o tecido se retrair novamente.
Daí a importância do acompanhamento periódico, principalmente nos casos cirúrgicos.
Estar atento aos sinais iniciais e buscar ajuda especializada pode evitar a progressão da contratura e preservar a função da mão.
Qualidade de vida e cuidados contínuos
A mão é uma das estruturas mais complexas do corpo humano, e qualquer limitação pode ter impacto direto na autonomia da pessoa.
A Doença de Dupuytren, quando tratada adequadamente, permite que o paciente retome suas atividades com conforto e segurança.
Manter hábitos saudáveis, controlar doenças associadas como o diabetes e abandonar o tabagismo são medidas que também ajudam na prevenção da progressão da doença.
Se você identificou nódulos na palma ou percebe que seus dedos estão encurvando com o tempo, procure um ortopedista especialista em mãos.
Quanto mais cedo iniciarmos o acompanhamento, melhores são os resultados.
Imagens: Créditos Pixabay
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